Medo de terapia?

17 de outubro de 2016

AA022724Com certeza você já ouviu alguém dizer: “Crente não precisa de psicólogo. Meu psicólogo é Cristo!” Então não precisaria também de médico ou de advogado, pois Cristo é o Médico dos médicos e nosso Advogado. Não é verdade?

Vez ou outra recebo uma ligação telefônica e alguém do outro lado da linha quer informações a respeito de terapia. Alguns até chegam a marcar consulta e jamais voltam a fazer contato; outros, depois de algum tempo telefonam, marcam e, embora receosos, aparecem. Uns ficam, outros não voltam nunca mais, não têm coragem nem de olhar o psicólogo, analista ou psiquiatra e dizer que não voltará.

É o medo de se expor, de falar de si mesmo, de ficar cara a cara com suas dificuldades, ter de enfrentá-las e crescer.

Afinal, como diz o Dr. Wayne Dyer em seu livro “Seus Pontos Fracos”, “Não é preciso nem uma gota de suor para deixar de fazer alguma coisa”.

Como é bom se refugiar numa redoma! Eternamente protegidos, como uma criança, sem precisar lidar com as preocupações, as responsabilidades e a realidade do mundo onde as pessoas adultas vivem.

Para nenhum ser humano, projetado à imagem e semelhança de Deus para ser perfeito, é fácil descobrir e admitir que tem falhas, erros, medos, tristezas, traumas, frustrações. Chorar, admitir a raiva e o medo é tarefa difícil e dolorosa e então, lá dentro alguma voz avisa que é melhor deixar as coisas como estão, não falar sobre o assunto; calam o coração e a voz das emoções para fazer de conta que está tudo bem.

Entretanto, não está tudo bem e os sentimentos acabam por fazer mal a própria pessoa e aqueles com quem elas convivem. A raiva não admitida e curada transforma a pessoa em alguém agressivo e cruel, por exemplo. O choro reprimido deixa a pessoa com o coração pesaroso e entristecido.

Não é pecado chorar; Jesus chorou. Não é pecado sentir raiva; Jesus irou-se. O pecado é deixar o sol se por sobre a ira, não ser capaz de perdoar nem de abrir o coração magoado para Deus a fim de que ele o cure.

Comumente encontramos pessoas adoecidas porque em vez de colocar para fora suas emoções esmagadoras, somatizam em seus corpos, tornando-os doentes. O corpo doente precisa de cuidados médicos, a alma enferma precisa da presença de Jesus e a mente perturbada precisa do psicoterapeuta para organizar-se.

Ainda no ventre materno começamos a produzir um script da vida. Tudo o que acontece durante a gravidez, o parto, a maneira como somos recebidos ao nascer, o relacionamento familiar e social, o ambiente em que crescemos e todas as coisas que experienciamos ajudam a escrever esse script. Nele, há tanto coisas boas quanto coisas ruins e muitas vezes o que fica mais evidente nesse script são os males pelos quais passamos.

Passar pelo processo de psicoterapia é rever, passar a limpo ou reescrever o script; às vezes é necessário reescrever somente algumas partes, outras vezes é necessário reescrever praticamente todo ele.

De fato, essa não é uma tarefa das mais fáceis. Quando há tanto aprendizado, comportamento, maneira de pensar, sentimentos, valores, experiências, etc., é difícil mesmo reavaliar.

No entanto, será esse processo que ajudará a pessoa a se conhecer, amar-se, gostar da vida e daquilo que tem.

Em seu livro “A Arte de Aprender a Amar-se a Si mesmo”, Cecil Osborne escreveu: “A fim de aprender a gostar de si mesmo ou amar-se, primeiramente você deve descobrir quem você é, e como você chegou a ser o que é. Seu nome não é sua identidade. Nem seu papel como mãe, pai, estudante, empregado. Você é muito mais do que o papel que representa na vida”.

Creio que todo ser humano tem uma missão a cumprir na vida só que muitos existem sem que encontre esse sentido. É como se não servissem para nada, como se ninguém gostasse ou precisasse dele. Quando falamos a respeito do amor de Deus pelas pessoas não conseguem nem acreditar que Deus o ame. Não sabe quem é, de onde vem nem para onde vai. Em algum lugar do passado convenceu-se de que não existe amor por si mesmo e muito menos pelos outros.

Jesus conhecia as tendências humanas. Não foi a toa que ensinou “Ame o seu próximo como a si mesmo” (Jo 10.27).

O plano original de Deus para o homem era que ele vivesse em harmonia e felicidade. O pecado transtornou a vida do homem e este perdeu o elo com Deus. Continuamente o homem sente-se perdido, errante.

É preciso resgatar o elo consigo e com Deus!

É preciso criar coragem e enfrentar os “monstros” escondidos no eu interior e libertar a alma para o Espírito Santo atuar com mais eficácia.

É preciso reconhecer os limites, fracassos e acreditar que há algo de muito bom na vida, ainda mais se você descobrir que “o seu mundo só estará em ordem quando você estiver firmemente convencido de que o mundo interior, espiritual, deve reger o exterior, o da atividade” (Ponha em Ordem seu Mundo Interior – Gordon MacDonald).

Comumente encontramos tantas pessoas doentes emocionalmente nas igrejas. Pessoas que crêem em Deus, tiveram um encontro pessoal com o Salvador Jesus e encontram-se muito depressivas, permanentemente agressivas, totalmente intolerantes, penosamente entristecidas e inexpressivas. Por que? O fator psicológico está comprometido e precisam de ajuda profissional.

Deus criou o ser humano com intelecto e sentimentos, para pensar e sentir. Agir somente baseado na razão e no pensamento o deixa frio e inexpressivo; por outro lado, agir somente na emoção e com o coração o deixa descontrolado e vulnerável. O ideal é que haja um equilíbrio.

Quando a pessoa não consegue encontrar esse equilíbrio sozinha, deveria enfrentar o medo do “divã” e buscar ajuda.

Ajuda para viver em abundância e plenitude de vida; em harmonia consigo, com seus familiares, amigos e irmãos; numa atitude positiva de quem está sob o controle do Espírito Santo de Deus produzindo o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio.

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Por: Psic. Elizabete Bifano

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